José Maria Eça de Queirós é natural da Póvoa do Varzim, estreia-se na Gazeta de Portugal (1866-67) produzindo textos que refletem a imagem de um Eça romântico. Da participação nas atividades do Cenáculo há de nascer a criação conjunta (com Batalha Reis e Antero) do poeta imaginário C. Fradique Mendes. Em parceria com Ramalho Ortigão escreve O mistério da estrada de Sintra, obra em que se cruzam tendências estéticas de extração romântica e decadentista, a par com o entramado do relato policial e a análise de costumes.
A dimensão de crítica social e de intervenção cívica emerge em Eça sobretudo quando das Conferências do Casino (1871) e da publicação d’As farpas (1871-1872), desenrolando-se assim uma atividade orientada para a morigeração dos costumes.
É como cônsul em Newcastle e em Bristol que Eça escreve O primo Basílio (1878) e O crime do padre Amaro (1876 e 1880). Essas estadas no estrangeiro agudizam-lhe a consciência das dificuldades de uma escrita que exigia observação atenta da realidade. Seja como for, O primo Basílio corresponde ao fundamental da doutrinação naturalista, pela representação da atmosfera social que envolve a protagonista e pela lógica implacável de desenvolvimento da intriga de adultério. O crime do padre Amaro, que conheceu três versões, representa já uma fase de maturidade literária no percurso de Eça e uma prova de refinamento naturalista. O protagonista é Amaro, um padre sem vocação, a quem é destinada a paróquia de Leiria, um típico cenário provinciano e beato.
Ainda sob o signo do naturalismo, mas revelando a pervivência da estética romântica, publica Os Maias (1888), romance que ilustra os movimentos e as contradições de uma sociedade historicamente bem caracterizada. É essa sociedade que motiva em Eça a criação de uma série de personagens-tipo denunciadoras da crise institucional da época.
Nas obras O mandarim (1880) e A relíquia (1887) o mítico e o fantástico, o simbólico e o alegórico combinam-se com a permanente tendência para a crítica de costumes. A relíquia, protagonizada por Teodorico Raposo, revela a convergência dessas orientações. No entanto, a história reveste-se de um pendor acentuadamente crítico e satírico: Teodorico orienta a sua vida de herdeiro da fanática D. Patrocínio, sob o signo da duplicidade.
Nas sua últimas obras, Eça contempla elementos históricos, simbólicos e míticos, já em tempo de mudança ideológica. N’A ilustre casa de Ramires articula a vida monótona de um genuíno fidalgo português, Gonçalo Mendes Ramires, com o episódio histórico relatado na “Torre de D. Ramires”, em que se destaca o antepassado Tructesindo Ramires, exemplo de fidelidade a princípios de lealdade e honra senhorial. Também o romance A cidade e as serras é atravessado por ambiguidades. A existência do Jacinto super-civilizado em Paris, observado por Zé Fernandes, contrapõe-se ao regresso a Portugal; no Douro dos seus antepassados, Jacinto reencontra, entre perplexo e fascinado, uma autenticidade perdida. Deste modo, n’A cidade e as serras testemunham-se fundamentais preocupações emergentes em finais do século XIX, esboçadas já nos contos Civilização e, mais difusamente, n’A perfeição.
Enquanto cultor do romance, Eça de Queirós constitui, na literatura portuguesa, um caso absolutamente invulgar de agilidade técnica e de capacidade de ajustamento da linguagem da narrativa a temas e a motivos que dela careciam. E contudo, Eça não se limitou ao culto do romance; no contexto da sua produção, o conto ocupa um lugar também significativo, não raro em conjugação temática com os romances publicados. Para além disso, Eça cultivou ainda a crónica; desde o Distrito de Évora, pode dizer-se que jamais o escritor abandonou um género que requeria uma contínua atenção ao real, nele se exercitando também a atitude do romancista interessado no contemporâneo. Publicações como a Gazeta de Notícias, A Atualidade, a Revista Moderna e naturalmente a Revista de Portugal foram órgãos privilegiados por uma escrita cronística que propiciou aos leitores portugueses e brasileiros um contacto estreito com a vida cultural, política e social da Europa.
Personagens no Dicionário:
Afonso da Maia (Os Maias)
Amaro Vieira (O crime do padre Amaro)
Amélia (O crime do padre Amaro)
Artur Corvelo (A capital!)
Basílio de Brito (O primo Basílio)
Carlos da Maia (Os Maias)
Carlos Fradique Mendes (A correspondência de Fradique Mendes)
Conselheiro Acácio (O primo Basílio)
Gonçalo Mendes Ramires (A ilustre casa de Ramires)
Jacinto (A cidade e as serras)
João da Ega (Os Maias)
José Matias (Contos)
Juliana (O primo Basílio)
Leopoldina (O primo Basílio)
Luísa (O mistério da estrada de Sintra)
Luísa (O primo Basílio)
Maria Eduarda da Maia (Os Maias)
São Cristóvão (Lendas de santos)
Teodorico Raposo (A relíquia)
Tomás de Alencar (Os Maias)
Vitorino Cruges (Os Maias)
Zé Fernandes (A cidade e as serras)