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Autor: Arsénio da Ressureição

José Régio - (1901-1969)

Natural de Vila do Conde, José Régio é o pseudónimo adotado por José Maria dos Reis Pereira, que herdou da mãe “tendências literárias” (Lisboa, 1976: 26) e do lado paterno amor ao teatro. Muito influenciado na juventude pelos poetas António Nobre, João de Deus, Antero de Quental e Cesário Verde, foi também um camiliano, como assume na primeira pessoa. Leu Renan e Flaubert, A. Gide e Proust com fervor, para, anos mais tarde, se render a Dostoievski, Tolstoi e Ibsen.

No fim da adolescência, a morte do avô veio lançar-lhe a semente da descrença religiosa, motivo que percorre a sua escrita e é alimentado pela literatura russa, que lê com veneração, até pelo facto de ir ela ao encontro da problematização das questões existenciais e metafísicas que o preocupam.

Frequentou o Liceu Rodrigues de Freitas no Porto e daí partiu para Coimbra para estudar Filologia Românica. É o tempo de convívio com Adolfo Rocha (futuramente Miguel Torga) e de participação nas revistas Bizâncio e Tríptico. Em 1925 defende a sua tese de licenciatura – As correntes e as individualidades na Moderna Poesia Portuguesa – e estreia-se com o livro Poemas de Deus e do Diabo, assumindo o pseudónimo José Régio. À distância dos anos dirá: “Nunca terei emenda?! nunca serei capaz de superar o eu, o me, o mim, o meu? não chegarei a cansar-me de tanto pronome da primeira pessoa?!” (Régio, 1965: 114). Reside provavelmente nesse egotismo a sua verdadeira procura sôfrega por respostas contra a angústia, espelhada em muita da sua poesia (a título ilustrativo, cite-se Biografia, 1929, A chaga do lado, 1954, ou Filho do Homem, 1961) e da obra dramatúrgica (Jacob e o anjo, 1940, Três peças em um ato, 1957).

José Régio foi, a par de Gaspar Simões e Branquinho da Fonseca, um dos pilares da Presença e um dos nomes que assinou alguns dos mais importantes textos doutrinários da revista, apesar de produzir afirmações como estas: “Não creio na submissão a escolas, correntes, modas. Também nunca por de mais me tentou qualquer das manifestações da chamada camaradagem literária, que tenho por uma forma particular de mundanismo” (Régio, 1965: 90). Pese embora o valor perentório destas palavras, logo no n.º 1 da revista, saída em março de 1927, responde com “Literatura viva” aos novos desafios do mundo das Letras: “Pretendo aludir nestas linhas a dois vícios que inferiorizam grande parte da nossa literatura contemporânea, roubando-lhe esse caráter de invenção, criação e descoberta que faz grande a arte moderna (Régio, 1977: 17). Em “Literatura livresca e Literatura viva” (Presença, n.º 9, 1928) proclama a urgência do retorno da arte pela arte (“A finalidade da arte é apenas produzir-nos esta emoção tão particular, tão misteriosa, e talvez tão complexa: a emoção estética”), que prenuncia a linha de corte com o neorrealismo e com qualquer literatura engajada.

De então em diante, originalidade, sinceridade e génio serão palavras-chave para os presencistas. De entre os seus contributos para o debate entre tradição e vanguarda, são incontornáveis os textos “Classicismo e Modernismo” (Presença, n.º 2, março de 1927) e “Da geração Modernista” (Presença, n.º3, abril de 1927), este último de consagração do triunvirato Pessoa, Sá-Carneiro e Almada Negreiros.

Depois da experiência docente durante um ano letivo no Porto, no Liceu Alexandre Herculano, torna-se professor efetivo em Portalegre, onde permanece até se retirar do ensino. A essa vida certa e rotineira de professor liceal de francês contrapõe-se uma admirável e multifacetada queda para a crítica de cinema e de arte, para a criação literária nos domínios da poesia, do romance, do teatro, da diarística e do ensaio.

Romances como Jogo da cabra cega (1934), O Príncipe com orelhas de burro: história para crianças grandes (1942) e os seis volumes que compõem Casa velha (I – Uma gota de sangue; II- As raízes do futuro; III- Os avisos do destino, IV – As monstruosidades vulgares; V- Vidas são vidas), polvilhados de estilhaços autobiográficos e de marcas expressionistas (Frias, 2008: 716), confirmam a veia romanesca de Régio, que se espraia também pela criação de narrativas mais breves. Citem-se, a este respeito, os títulos Davam grandes passeios aos domingos (1941), Histórias de mulheres (1946) e Há mais mundos (1946).

Apesar de bem-sucedido literariamente, será sempre a amargura insatisfeita que o percorre e domina as suas criações: “As músicas que então me embalam triplo ser, / Como as tentar captar, como as dizer? / Se alguém as já ouviu ou é capaz de ouvi-las, / Compreenderá que é vão o intento de exprimi-las” (Mas Deus é grande, 1945).

 

Referências

FRIAS, Joana Matos (2008). “Régio, José”, in F. Cabral Martins (coord.), Dicionário de Fernando Pessoa e do Modernismo Português. Lisboa: Caminho. 712-717.

LISBOA, Eugénio (1976). José Régio: a obra e o homem. Lisboa: Arcádia.

RÉGIO, José (1977). Páginas de doutrina e crítica da “Presença”, pref. e notas de J. Gaspar Simões. Lisboa: Brasília Editora.

 

 

Personagens no Dicionário:

Maria Eugénia (O vestido cor de fogo)

Olímpia / Belarmina (Histórias de Mulheres)

Pedro Serra / Jaime Franco (Jogo da Cabra Cega)

Rosa Maria (Davam grandes passeios aos domingos)