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T > TORGA, Miguel

Miguel Torga - (1907-1995)

 

Miguel Torga

 

Miguel Torga, pseudónimo de Adolfo Correia da Rocha, nasceu em São Martinho de Anta, Sabrosa, a 12 de agosto de 1907 e morreu em Coimbra, a 17 de janeiro de 1995. De origens humildes, chegou a frequentar o seminário de Lamego, tendo depois emigrado para o Brasil, com 13 anos apenas; foi aí que encetou estudos secundários, concluídos já depois do regresso a Portugal. Em 1928, Torga começou o curso de Medicina na Universidade de Coimbra, ao mesmo tempo que iniciava uma vida literária cujos primeiros passos incluíram breve colaboração na Presença, ao que se seguiu a rutura com essa que era a mais influente revista cultural portuguesa da época.

Autor de uma obra distribuída pela poesia, pelo conto, pelo romance, pelo teatro e pelo diário, Miguel Torga protagoniza, a partir dos anos 30, um percurso literário dos mais originais e independentes do nosso século XX. Na sua muito vincada personalidade ressoam ecos de uma cosmovisão romântica, que, todavia, não impediram que, pouco a pouco, mas sobretudo nos anos posteriores a 1974, o escritor se fosse transformando numa referência cultural com algo de institucionalizado.

A questionação do nome (passando de Adolfo Rocha, assumido como médico, a Miguel Torga, identificação do escritor) foi um momento determinante de afirmação literária. A par dela, Torga desenvolve uma constante reflexão acerca de aspetos relevantes da escrita, da criação poética e da condição do escritor, aspetos esses muitas vezes presentes nas páginas do seu extensíssimo Diário (16 volumes; 1941-1993).

O apelido Torga, provindo do cenário, da vivência e do imaginário transmontanos, remete para origens quase míticas que o escritor nunca renegou. Esse nome e as características idiossincráticas de quem o escolheu explicam aquelas feições que, quase sempre por associação à biografia, a história e a crítica literárias associaram a epítetos recorrentes: telúrico, rebelde, agreste ou trágico são alguns desses epítetos. A isto junta-se aquilo a que Eduardo Lourenço chamou “desespero humanista”. Com ele convive um certo iberismo cultural, um dos eixos semânticos do universo torguiano mais frequentemente visados pela crítica, em conjugação com mitos e com referências de ancestral origem.

De um modo geral, é a imagem do poeta vocacionalmente dedicado à escrita como causa e como atitude ética inderrogáveis que tem atravessado as leituras críticas consagradas aos componentes mais representativos da produção poética torguiana. Títulos significativos: O outro livro de Job, 1936; Lamentação, 1943; Libertação, 1944; Odes, 1946; Nihil Sibi, 1948; Cântico do Homem, 1950; Penas do Purgatório, 1954; Orfeu rebelde, 1958; Câmara ardente, 1962; Poemas Ibéricos, 1965. Lugar secundário, na economia interna da obra de Torga, cabe ao teatro (Terra firme e mar, 1941; Sinfonia, 1947; O Paraíso, 1949) e ao romance (Vindima, 1945). O longo relato A criação do mundo (1937-1981) configura, segundo Clara Rocha, um “espaço autobiográfico” que acolhe a progressiva conformação de uma personalidade constituída em diversos géneros e jogos de escrita. Por fim, importa sublinhar que, conforme geralmente é reconhecido, a obra de Torga tem no conto um dos seus componentes mais destacados, talvez até aquele que por mais tempo há de sobreviver na memória da história literária. Ainda que de forma indireta, os temas, os cenários e as personagens dos contos torguianos (Pão ázimo, 1931; A terceira voz, 1934; Contos da montanha, 1941; Rua, 1942; Novos contos da montanha, 1944; Pedras lavradas, 1951) têm muito da vivência pessoal que é o fulcro do aludido “espaço autobiográfico”: é sobretudo a terra transmontana que nos contos está representada, carregada de energia vital e atravessada por valores, por virtudes e por fraquezas primordiais e por aquela genuína dimensão humana que as personagens protagonizam, quando conhecem a experiência da morte, as pulsões da sexualidade ou a renovação da natureza. É assim, mesmo quando as personagens têm a feição de animais, como em Bichos (1940), título em geral considerado marco cimeiro da contística torguiana.

 

Personagens no Dicionário:

Julião (“O leproso” / Novos contos da montanha)

Senhor Ventura (O Senhor Ventura)

Vicente (Bichos)