Maria Agustina Ferreira Teixeira Bessa, que usou o nome literário em epígrafe (também grafado Agustina Bessa-Luís), nasceu em Vila Meã (Amarante), a 15 de outubro de 1922 e morreu no Porto, a 3 de junho de 2019. É autora de uma vastíssima e multímoda obra, que inclui diversos géneros: romance, conto, crónica, teatro, biografia, ensaio, memórias, etc.
Tendo começado a sua vida literária na passagem dos anos 40 para os anos 50 (Mundo fechado, 1948; Os super-homens, 1950; Contos impopulares, 1951-53), Agustina Bessa Luís revelou fulgurantemente o seu talento com A Sibila, em 1954 (prémios Delfim Guimarães e Eça de Queirós). Foi aquele romance que impôs, na cena literária portuguesa, uma voz obstinadamente original e desafeta de influências expressas, embora não de antecedentes literários, como por vezes é notado, quando certa ficção de Agustina é relacionada com o imaginário camiliano ou com a escrita de Raul Brandão.
Depois d’A Sibila, a vida literária de Agustina Bessa Luís desenrolou-se ao longo de seis décadas, evidenciando, nos mais de 50 títulos publicados, um percurso trilhado com grande perseverança e coerência de processos. Títulos significativos desse percurso, além dos já citados: Os incuráveis (1956), A muralha (1957), Ternos guerreiros (1960), A corte do Norte (1987), Vale Abraão (1991) e as séries As relações humanas (1964-66), A Bíblia dos pobres (1967-70) e O princípio da incerteza (2001-03). Escritora literariamente afim de antepassados ilustres, como os mencionados, Agustina supera, nessas e noutras das suas obras, as limitações do regionalismo, subverte e refigura com frequência o real representado, cria e aprofunda um universo próprio, mas não dissociado daquilo que a rodeia: crenças, mitos e valores não raro de inserção rural e de coloração pagã, costumes e mentalidades em mudança, que a romancista observa de modo arguto e não isento de ironia. A par disso, Agustina incorpora na sua ficção eventos e figuras históricas que a imaginação reescreve e reinventa: por exemplo, em Santo António (1973), em Sebastião José (1981), n’Os meninos de oiro (1983) ou em A Monja de Lisboa (1985). Tudo isto é modelado num estilo singular, que se acolhe com entusiasmo ou que se rejeita liminarmente, mas a que se não pode ser indiferente.
Desse estilo prolixo decorre um pendor aforístico feito de reflexões sobre atitudes morais, sobre Portugal e o destino português, sobre revoluções e transformações sociais, como se vê em Crónica do cruzado Osb (1977) e em As fúrias (1977), este último um romance escrito sob o influxo de transformações suscitadas pela Revolução de Abril de 1974. No seu conjunto, a ficção de Agustina configura um tecido romanesco aparentemente desequilibrado e improvisado, mas sem dúvida vigoroso, onde se destacam personagens extremamente marcantes.
Tendo sido objeto de várias distinções oficiais e galardoada com mais de uma vintena de prémios, Agustina Bessa Luís viu a sua obra ser adaptada ao cinema por várias vezes, em filmes de Manoel de Oliveira e de João Botelho.
Personagens no Dicionário:
Rosalina de Sousa (A corte do norte)
Quina (A Sibila)