Benigno José Mira de Almeida Faria nasceu a 6 de maio de 1943, em Montemor-o-Novo. O pai tendo-se destacado pela luta contra a ditadura, terá influenciado a consciência política e histórica de Almeida Faria. Da região em que vivia, cercado pelo tradicionalismo em concomitância com o desejo de revolução, partiu para Lisboa. Cursou a Faculdade de Direito, interrompida pelo seu envolvimento na contestação estudantil. É nesse período que publica Rumor branco, seu primeiro romance. A obra, prefaciada por Vergílio Ferreira, que havia sido professor de Almeida Faria no liceu, foi agraciada com o Prêmio Revelação da Sociedade Portuguesa de Escritores. Licenciou-se em Filosofia na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa. Viveu como escritor residente nos Estados Unidos – Internacional Writing Program, Iowa City −, e em Berlim – Berliner Künstlerprogramm. Recebeu diversos prêmios: Prêmio Aquilino Ribeiro da Academia das Ciências de Lisboa; Prêmio Dom Dinis da Fundação da Casa de Mateus; Prêmio Vergílio Ferreira da Universidade de Évora (pelo conjunto da obra); Prêmio Originais de Ficção da Associação Portuguesa de Escritores; Prêmio Universidade de Coimbra; Tributo de Consagração pela Fundação Inês de Castro.
Publicou romances, novelas, teatro e outros textos que contemplam o conto, o ensaio e a tradução. Romances: Rumor branco (1962), A paixão (1965), Cortes (1978), Lusitânia (1980), Cavaleiro andante (1983), O conquistador (1990) e o Murmúrio do mundo (2012). Novela: Os passeios do sonhador solitário (1982) e Um cão chamado Bolotas (1984). Teatro: Vozes da paixão (1998) e A revolta (1999).
De acordo com Álvaro Cardoso Gomes (1993), na obra de Almeida Faria podem ser distinguidas algumas fases: a primeira é formada pelo romance de estreia, Rumor branco; a segunda é composta pela Tetralogia lusitana (formada pelos romances A paixão, Cortes, Lusitânia e Cavaleiro andante) e a terceira é dominada pela obra O conquistador. Sua produção é marcada por narrativas com forte carga simbólica e alegórica. São identificáveis a influência do noveau roman em Rumor branco e o caráter fragmentário e polifônico que é desenvolvido na Tetralogia lusitana, uma série romanesca significativa sobre Portugal, que vai de antes da Revolução dos Cravos de 1974 até ao 25 de novembro de 1975. O conquistador por sua vez, é um romance construído sobre a ideia do mito sebastianista, numa revisitação donjuanesca da figura de Dom Sebastião.
Almeida Faria é um dos mais significativos nomes da Literatura Portuguesa do século XX, seja pela construção de narrativas que incorporam questões de ordem filosófica, para além de expressões estéticas peculiares, seja pelo engendramento de personagens que se relacionam com a história de Portugal e que estão à mercê dos seus reveses sociais e políticos.
Referência
GOMES, Álvaro Cardoso. (1993). A voz itinerante. Ensaio sobre o romance português contemporâneo. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo.
Personagem no Dicionário:
João Carlos (Tetralogia lusitana: A paixão (1965), Cortes (1978), Lusitânia (1980) e Cavaleiro andante (1983))
Marta (Tetralogia lusitana: A paixão (1965), Cortes (1978))
Sebastião (O Conquistador (1990))