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A > ABELAIRA, Augusto

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AUGUSTO ABELAIRA - (1926-2003)

Augusto José de Freitas Abelaira nasceu em Ançã (Cantanhede), a 18 de março de 1926; morreu em Lisboa, a 4 de julho de 2003.

Estudou na Faculdade de Letras da Universidade de Lisboa, onde se licenciou em Ciências Histórico-Filosóficas. Depois disso, Augusto Abelaira foi professor e jornalista, tendo trabalhado em vários jornais e revistas. Merecem destaque, neste plano, as crónicas que assinou no semanário O Jornal, de 1978 a 1992, sob o título genérico "Escrever na água", bem como as que escreveu na secção "Ao pé das letras", no Jornal de Letras, Artes e Ideias, de 1981 a 1996. Consagrou-se ainda à tradução e foi diretor de programas da RTP, em 1977 e 1978.

Como romancista e também dramaturgo, Augusto Abelaira projetou na sua obra uma forte consciência geracional, agudizada sempre que o escritor equaciona tempos de passagem e de confrontação ética, histórica e política. O testemunho de mudança que Abelaira traz à ficção portuguesa contemporânea vem dos anos 60 e começa por ser, nalguns dos títulos então publicados (A cidade das flores, 1959, Os desertores, 1960, As boas intenções, 1963, Enseada amena, 1966, Bolor, 1968), uma espécie de antecipação da revolução libertadora, justamente desejada pela geração que nesses anos 60 fazia ainda a sua aprendizagem da literatura. São dessa época as peças de teatro A palavra é de oiro (1961) e O nariz de Cleópatra (1962).

Passa por aqui a relação de Augusto Abelaira com o neorrealismo em processo de esgotamento, a par de uma atitude saudavelmente desconstrutivista e relativizadora que o escritor quase sempre manteve em relação ao romance e à narrativa em geral. Encontra-se testemunhada essa atitude na fragmentação diarística de Bolor e no posfácio escrito para o volume de contos Quatro paredes nuas (1972). As obras subsequentes de Augusto Abelaira confirmam o significado e a argúcia de um trabalho de escrita em que se articulam a criação ficcional e a indagação meta-literária, uma certa propensão para o inacabamento e a assumida precariedade da escrita narrativa; muito disso pode ler-se em Sem teto entre ruínas (1979), O triunfo da morte (1981), O bosque harmonioso (1982), O único animal que? (1985), Deste modo ou daquele (1990) e em Outrora agora (1996). De 1980 é a peça de teatro Anfitrião, outra vez; o romance póstumo Nem só mas também foi publicado em 2004.

Frequentemente encontramos, nos textos de Abelaira, um dos mais marcantes traços da sua cosmovisão, bem presente também nas crónicas de imprensa que assinou ao longo de anos: a ironia de reminiscência queirosiana, implicando uma outra e sempre relativizada maneira de olhar o mundo, os homens e os temas fundamentais da existência humana.

 

Personagens no Dicionário:

Arnaldo Cunha (O bosque harmonioso)

Giovanni Fazio (A cidade das flores)

T (Bolor)

 

Carlos Reis