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M > MIGUÉIS, José Rodrigues

José Rodrigues Miguéis - (1901-1980)

 

migueis

 

José Claudino Rodrigues Miguéis nasceu em Lisboa, a 9 de dezembro de 1901, e morreu em Nova Iorque, a 27 de outubro de 1980.

Sendo filho de um imigrante galego, Rodrigues Miguéis viveu uma infância e uma adolescência lisboetas, ao que seguiu o estudo do Direito; licenciou-se em 1924. Desde cedo inclinado para a vida literária, Miguéis incorporou o ideário republicano e a oposição ao Estado Novo, o que o levou a partir para os Estados Unidos, em 1935. Ali viveu o resto da vida, com exceção de episódicos regressos a Portugal.

Com ligações culturais e ideológicas ao pensamento da Seara Nova, José Rodrigues Miguéis conheceu, por força do exílio norte-americano, a experiência da emigração, experiência que de certa forma se reflete nos rumos temáticos e formais que caracterizam a sua obra. Para além disso, a produção literária de Miguéis resultou num corpus muito alargado no tempo, indo dos anos 30 aos anos 80, já em edições póstumas, o que inevitavelmente implica compreensíveis oscilações temáticas e ideológicas.

Como resultado do labor do contista talentoso que Rodrigues Miguéis foi, merecem destaque os volumes Léah e outras histórias (1958, incluindo a obra-prima “Saudades para a Dona Genciana”) e Gente de terceira classe (1962) . No que ao romance e à novela diz respeito, mencionem-se os títulos Páscoa feliz (1932, título de estreia que mereceu o Prémio Casa da Imprensa), Uma aventura inquietante (1958), A escola do paraíso (1960, onde se evidencia o fascínio pelo universo da aprendizagem infantil da vida), Nikalai! Nikalai! (1971), O milagre segundo Salomé (1975) e O pão não cai do céu (1981), este último um relato em que é audível o eco da mensagem neorrealista. A estas referências importa juntar os volumes de crónicas É proibido apontar. Reflexões de um burguês - I (1964), O espelho poliédrico (1972) e As harmonias do "Canelão". Reflexões de um burguês - II (1974).

O drama da ausência e da emigração, a vivência das tensões do regresso, o reencontro com o mundo perdido da infância e da pátria abandonada constituem sentidos estruturantes de uma obra onde a pulsão autobiográfica é evidente (tal como é explicitado no volume Um homem sorri à morteCom meia cara, 1959) e onde muito sugestivamente se configuram cenários e comportamentos de uma Lisboa burguesa observada de forma extremamente penetrante e muito apurada do ponto de vista técnico. O romance O milagre segundo Salomé transcende essa dimensão ilustrativa e aprofunda a representação do tempo histórico português do primeiro quartel do século XX, com as suas tensões e com as suas crises, conduzindo à revolução de 1926.

Em parte por força das circunstâncias da vida literária do escritor, a obra de Rodrigues Miguéis não suscitou ainda a alargada atenção crítica que a sua qualidade justifica.

 

Personagem no Dicionário:

Gabriel (A escola do paraíso)