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P > PINTO, Júlio Lourenço

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Autor: Abel Manta

Júlio Lourenço Pinto - (1842-1907)

Nasceu e morreu no Porto. Bacharel em Direito pela Universidade de Coimbra, exerceu os cargos de Administrador de Concelho em Lousada, Santo Tirso, Vila Nova de Gaia e Póvoa do Varzim e foi secretário do Governo Civil em Santarém, Coimbra, Vila Real e Bragança. Além da sua atividade literária, foi presidente da Associação de Jornalistas e Homens de Letras do Porto, cargo decorrente da sua colaboração regular em diversos jornais. A sua estreia literária aconteceu, aliás, em O Comércio do Porto, onde manteve uma crónica intitulada «Revistas semanais» durante dois anos.

Publicou em 1879, Margarida, primeiro romance de um conjunto de títulos sob a designação genérica «Cenas da vida contemporânea», a que se seguiram Vida atribulada (1880), O Senhor Deputado (1882), O homem indispensável (1883) e O Bastardo (1889). As «Cenas da vida contemporânea» tiveram, como outras séries coevas, o intuito de retratar a sociedade portuguesa, fazer a sua crítica e a “exaltação de um ideal de vida” (Reis et alii, 2001: 257), motivos repetidos em Esboços do natural, livro de recolha de contos anteriormente surgidos em periódicos.

A sua ficção adotou um realismo com reminiscências de Balzac e Flaubert, defendido no volume Do Realismo na arte (1877), e reflete a adesão às conceções deterministas de Émile Zola explanadas nos ensaios de Le roman expérimental (1880). As narrativas de Júlio Lourenço Pinto são caracterizadas pela descrição com recurso a termos científicos, sobretudo os próprios da medicina, e pela subordinação das personagens ao propósito discursivo do autor, através do enunciado da predestinação por influências hereditárias, do meio social e da educação. Os seus textos retratam tipos – como José de Oliveira, O Senhor Deputado – que sujeitam ao desejo de engrandecimento pessoal (poder político, económico e social) a vida familiar ordeira e o trabalho honesto e honrado (conceitos embebidos da tradição positivista), terminando abatidos pela ambição desregrada, ou redimidos pela consciência dos erros cometidos.

Os conceitos teóricos de Júlio Lourenço Pinto foram explanados em textos dispersos, reunidos em 1884 no volume Estética Naturalista – textos críticos e nos prólogos aos seus livros. Destes, destaca-se o texto introdutório a Margarida, onde o autor considera que o objetivo do Realismo é o levantamento do “nível da dignidade humana”, o melhoramento do espírito e a preparação do “sentir das gerações para o gradual aperfeiçoamento do viver social”, evitando perturbar as “imaginações” e estragar “o caráter sob a influência de morbidezas sentimentais”. Lourenço Pinto recusou a descrição de episódios escabrosos e a utilização de linguagem ousada que os seus contemporâneos citavam como os grandes defeitos do naturalismo. Afirma esta recusa no prólogo a O Senhor Deputado: “reprovamos todavia as cruezas do naturalismo e quereríamos que o romance moderno fosse educador. Com este intuito desadoramos supérfluas minudências ascorosas, sem todavia recuar perante a análise profunda das enfermidades sociais, quando reclamada pela tese que o autor se propõe demonstrar, pelo desenvolvimento da ação ou dos carateres.”

 

Referência

REIS, Carlos et alii (2001). “Os epígonos”, in Carlos REIS (dir.), História da Literatura Portuguesa. O Realismo e o Naturalismo. Lisboa: Publicações Alfa. 253-292.

 

 

Personagens no Dicionário:

Adelina Antunes (Margarida)

José de Oliveira (O Senhor Deputado)

 

Irene Fialho