Nascido no Porto, a 9 de junho de 1900, foi em Lisboa que José Gomes Ferreira viveu praticamente toda a sua vida. Com apenas 19 anos, foi coorganizador da revista Ressurreição, onde Fernando Pessoa publicou o poema “Abdicação” (1920). Reuniu os seus poemas em Lírios do Monte (1918) e Longe (1921), mas foi a partir de 1948, quando publicou Poesia I, que terá começado a imprimir firmemente os seus passos como poeta. Ao longo da vida, José Gomes Ferreira manteve contato com muitos autores de literatura portuguesa e, tanto a sua correspondência, como os seus diários, deixam entrever diálogos com, por exemplo, Augusto Abelaira, Sophia de Mello Breyner Andresen, João de Barros, João José Cochofel, Irene Lisboa, José Rodrigues Miguéis, Carlos de Oliveira, José Cardoso Pires, Urbano Tavares Rodrigues, António Ramos Rosa, José Saramago e Alexandre Pinheiro Torres.
Dado o seu encontro com diversos movimentos literários que marcaram o século XX, a sua obra pode ser considerada como um retrato do panorama literário deste século. Ao longo do século XX, cruzou-se com o chamado presencismo, tendo vindo a publicar na revista Presença o poema “Viver sempre também cansa” (1931). Raul Brandão terá sido, segundo José Gomes Ferreira, o seu “mestre secreto”, pelo que também deverá ter contactado com o movimento literário expressionista. O surrealismo e o neorrealismo poderão igualmente ter deixado marcas na sua obra. Disso é exemplo o romance panfletário Aventuras de João sem Medo (1965), hoje parte do Plano Nacional de Leitura, onde é possível encontrar um retrato amargo de um Portugal sob a égide da ditadura. Ao longo do séc. XX assistiu à queda e ascensão de diferentes sistemas políticos. Filho do democrata republicano Alexandre Ferreira e autor de obras onde assume um forte compromisso social, veio a descrever-se como um “poeta militante”.
José Gomes Ferreira colaborou na tradução de O Livro das mil e uma noites (1926), legendou filmes sob o pseudónimo Álvaro Gomes, compôs música, escreveu crónicas, ficção, poesia e ensaios. Juntamente com Carlos de Oliveira, organizou a antologia Contos tradicionais portugueses (1958). Finalizou o curso de Direito na Universidade de Lisboa em 1924 e foi cônsul em Kristiansund, na Noruega, entre 1926 e 1929. No entanto, foi sobretudo à literatura que se dedicou. Com Poesia III, ganha, em 1961, o «Grande Prémio da Poesia» atribuído pela Sociedade Portuguesa de Autores. Em 1965, o livro A memória das palavras recebe o Prémio da Casa da Imprensa. Viria a integrar, em 1978, a direção da Associação Portuguesa de Escritores. Pai do arquiteto Raul Hestnes Ferreira (1931-2018) e do poeta Alexandre Vargas (1952-2018), faleceu em fevereiro de 1985 com 84 anos, meses antes de poder celebrar a mesma idade do século.
Personagem no Dicionário:
João Sem Medo (Aventuras de João Sem Medo)