Autora: Ana Luísa Vilela
Artigo publicado na Revista de Estudos Literários, 6, 2016: 309-331
Resumo: Nos romances de Eça de Queirós, a observação dos processos pelos quais é dita e, sobretudo, sugerida a imaginária carnalidade das personagens constitui uma das mais férteis e sedutoras vias de fruição da obra do maior escritor realista português. Frequentemente, no entanto, a representação do corpo de muitas personagens queirosianas constitui, apenas, um meio para falar de outra coisa – ou, simplesmente, um recurso da verosimilhança, um suporte que autorize a própria personagem a falar, isto é, a fornecer informações às outras personagens e ao leitor. De facto, por exemplo n’Os Maias, a obra-prima do autor, há personagens especialmente vocacionadas para a enunciação: são mensageiros, informadores, cuja missão, a de revelar uma verdade diegética, concentra o essencial da sua função romanesca, quase completamente os absorve e, por isso, até certo ponto os descarna, enfraquecendo a sua densidade física. Independentemente do regime utilizado pelo discurso para lhe aludir, a representação do corpo é, nestes casos, determinada pelo seu caráter funcional, que tematicamente o secundariza enquanto organismo. É o caso de, por exemplo, Castro Gomes e Guimarães. É justamente este grau instrumental e episódico da menção física que é preferencialmente abordado neste artigo, apoiada na categorização proposta por Francis Berthelot. Procuro, aqui, compreender a forma como a corporalidade romanesca pode acomodar-se ao desempenho, por estas personagens, das suas funções enunciativas particulares. Que ressonância e relevância semântico-simbólicas adquire então, nestas figuras, a sua problemática representação física? Que insuspeito valor tem o seu corpo no romance?
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