Abel Acácio de Almeida Botelho nasceu em Tabuaço. Diplomata, Ministro de Portugal desde 1911 em Buenos Aires, morreu na capital argentina. Estudou entre 1867 e 1872 no Real Colégio Militar, de onde saiu com o posto de aspirante, tendo ingressado na Escola Politécnica sem abandonar a carreira das armas, onde atingiu o posto de coronel que lhe valeu a chefia do Estado-Maior da 1.ª Divisão Militar em 1906. Foi deputado pela República e senador. Ocupou vários cargos em organismos da sociedade civil, Academia de Ciências e a Sociedade de Geografia entre outras. Colaborador em diversos periódicos (O Século, O Repórter – do qual foi diretor –, O Ocidente, Serões, Brasil-Portugal, Atlântida, etc.), enquanto crítico literário expôs as suas ideias artísticas no jornal O Dia.
Estreou-se nas letras com o nome Abel Acácio com um volume de poesia, Lira Insubmissa (1885), ao qual se seguiram peças de teatro, sobretudo comédias, representadas nos teatros de Lisboa. Destas, causaram polémica e escândalo Vencidos da Vida (1892, proibido pelas autoridades por ofender a moral pública) e A Imaculável (1897, motivo de tumultos no Teatro de D. Maria).
A partir do Ultimatum a sua produção, a par da escrita de contos rurais, reunidos no volume Mulheres da Beira (1898), desenvolve-se no projeto romanesco «Patologia Social», onde pretendeu retratar os vícios da sociedade portuguesa, sobretudo a lisboeta, através dos métodos experimentais do Naturalismo; dependente das finalidades do método, a criação artística de Abel Botelho submeteu-se às largas descrições paisagísticas e às características fisiológicas, ortodoxamente realistas, mórbidas ou grotescas, das suas personagens. Interessavam-lhe sobretudo as aberrações morais, rejeitando figuras que em si reunissem as “faculdades de sentimento, de pensamento e de ação” por aglutinarem as qualidades do “tipo fisiológico banal, sem interesse” literário. Dedicava-se preferencialmente ao estudo de carateres representativos do desequilíbrio resultante do “predomínio (…) de qualquer dessas faculdades”, traduzido em “aberrações e anomalismos patológicos” ("Prólogo da segunda edição" [1878] a O Barão de Lavos, apud Maria Aparecida Ribeiro, História Crítica da Literatura Portuguesa. Volume VI. Realismo e Naturalismo. 2ª ed. Lisboa: Verbo, 2000, p. 284).
Centrado na história de Sebastião de Castro e Noronha, O Barão de Lavos (1891), da série Patologia Social, é considerado o primeiro romance português a versar o tema da homossexualidade masculina; a série continua com o relato da obsessão de um homem (Mário) por uma prostituta em O livro de Alda (1898) e deriva depois para as lutas da classe proletária nos bairros operários de Lisboa em Amanhã! (1901). Isabel Penalva torna-se o exemplo da adúltera numa classe social contundida pela corrupção sexual em Fatal Dilema (1907); na véspera da implantação da República, descreve-se a decadência do regime monárquico em Próspero Fortuna (1910), romance onde são revelados os métodos utilizados pelo protagonista para a sua ascensão política.
Abel Botelho oscila entre épocas literárias, recebendo influências idealistas, mas fixando-se sobretudo num Naturalismo que apresenta traços decadentistas revelados em mortes recorrentes por assassinato, suicídio ou total degradação física e moral. No entanto, no número de 26 de setembro de 1900 d’A Paródia, de Rafael Bordalo Pinheiro, a caricatura do funeral de Eça de Queirós indica Abel Botelho como o sucessor do defunto na cátedra naturalista, pondo-se-lhe ao peito uma placa onde se lê «Eça».
Personagens no Dicionário:
Isabel Moscoso Penalva (Fatal Dilema)
Sebastião Pires de Castro Noronha (O Barão de Lavos)