Maria Gabriela Llansol nasceu em Campo de Ourique, Lisboa, em 1931, a poucas ruas do lugar onde hoje se situa o Espaço Llansol (https://espacollansol.blogspot.com/), que abriga o seu espólio e coordena vários encontros em torno da sua obra.
Licenciou-se primeiro em Direito (1955), que nunca exerceu, e logo em Ciências Pedagógicas (1957). A experiência de ensino com crianças ou “o lugar mais filosófico do mundo” inicia-se em Lisboa, na década de 60, a par do exercício da escrita. Nesses anos publica os alguns textos em revistas e o seu livro de estreia Os Pregos na Erva (1962). Em 1965, parte para a Bélgica para juntar-se ao marido, Augusto Joaquim, que será o seu primeiro e devoto leitor, toda a vida. Até ao momento em que regressam a Portugal, ambos se dedicaram a vários projetos comunitários, cuja vivência é notória nos seus textos, com particular ênfase para a “Escola da Rua de Namur”. A Bélgica, mais do que num país de acolhimento, expande-se numa série de “lugares” de sentido que marcam toda a sua produção literária na década de 80 e ainda na década seguinte: Lovaina (1986-75), Jodoigne (1975-80) e Herbais (1980-84). Tal é evidente pelo seu livro explicitamente de ensaios O Senhor de Herbais: Breves Ensaios Literários sobre a representação estética do mundo e suas tentações (2002).
É de longe que acompanha a publicação daquele que considerou o seu “livro-fonte”, O Livro das Comunidades (1978), ou o muito elogiado Causa Amante (1984). Com Um Falcão no Punho – Diário I (1985) recebe o seu primeiro reconhecimento literário – Prémio D. Dinis Casa de Mateus. Dois anos depois, com Contos do Mal Errante (1986), recebe o Prémio Inasset ’87. Regressada a Portugal em 1985, a sua publicação torna-se mais constante, dando à estampa quase um livro por ano a partir de então. Um beijo dado mais tarde (1991) é a sua obra de consagração, pelo qual recebeu o Prémio APE de Ficção, galardão que voltaria a vencer em 2004, com Amigo e Amiga – Curso de Silêncio 2004, escrito após a morte do marido. A sua obra mais estudada, por capitalizar toda a sua reflexão em torno a Fernando Pessoa, é Lisboaleipzig (1994), que consta de dois volumes.
Desde o seu regresso a Portugal, em 1985, Maria Gabriela estabeleceu uma rede de amizades literárias, das quais se destacam Eduardo Prado Coelho e Vergílio Ferreira, sobre quem escreve e a quem dedica o seu último diário, Inquérito às Quatro Confidências (1996). Foi tradutora de Baudelaire, Verlaine, Rimbaud, Rilke ou Paul Eluard, entre outros. Até à sua morte, em 2008, deixou 26 livros, que se encontram atualmente em processo de reedição. Nos últimos anos, a autora manifestou o desejo de ver publicados os seus muitos cadernos de escrita, que deram origem aos Livros de Horas (9 vols., em 2024), da responsabilidade de João Barrento, coautor, com Maria Etelvina Santos, de Llansoliana: Bibliografia Activa e Passiva (1952-2018) (Rio de Escrita, XII. Lisboa: Mariposa Azul, 2018).
Personagem no Dicionário: