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T > TEIXEIRA-GOMES, Manuel

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Autor: J. Marques de Oliveira

Manuel Teixeira-Gomes - (1860-1941)

Natural de Portimão e filho de pais abastados, recebeu uma educação primorosa no Colégio de São Luís Gonzaga, a que se seguiu a passagem pelo seminário dos Olivais, em Coimbra. Apesar de não chegar a concluir os estudos de medicina, que encetara na mesma cidade do centro do país, não desperdiça uma boa tertúlia literária nem o convívio com possíveis colegas de profissão, nomeadamente Fialho de Almeida, Brito Camacho, Júlio Dantas e Teixeira de Queirós, entre outros. Passa por uma fase de estúrdia em Lisboa e no Porto, cidade onde trava amizade com Sampaio Bruno. Priva ainda com figuras como Afonso Lopes Vieira, João de Barros e Carlos Malheiro Dias. Mas os anos passam e o dinheiro escasseia, pelo que teve de tomar medidas consequentes quanto ao seu futuro.

Graças à decisão de se entregar afincadamente ao negócio de família – a comercialização de frutos secos, em especial de figos – adquire o conforto económico necessário para viajar um pouco por todo o mundo, tratando pessoalmente das exportações dos produtos e vivendo experiências amorosas intensas, que perpassam pelos seus escritos.

Além de fazer uso desde cedo da boa biblioteca paterna, tornou-se um homem culto à sua própria custa, perseguindo novos interesses e alimentando alguns luxos, seja a música, seja a arte. Domina várias línguas estrangeiras e entre os seus autores de eleição encontram-se Shakespeare, Heine (Quaresma, 2016: 50 e 162) e Baudelaire.

Publica o seu primeiro texto no jornal Folha Nova, em maio de 1881. Em 1899 dá à estampa Inventário de junho, espécie de compilação de textos de natureza e extensão vária, a que se seguem Cartas sem moral nenhuma (1903), Agosto azul (1904) e a peça de teatro Sabina Freire (1905). Dois anos depois de publicar Gente singular (1909), é nomeado “ministro plenipotenciário” e abraça a carreira diplomática em Londres, o que não espanta, pois sempre estivera atento à política e o republicanismo estava incrustado nos seus genes. Foi destituído do cargo por Sidónio Pais em 1918, mas não abandonou definitivamente a política. Foi eleito Presidente da República em 1923, cargo que abandonou, por sua iniciativa, dois anos mais tarde.

Autor de uma prosa agradável, escorreita, repassada de bom talhe descritivo no que aos espaços diz respeito (o solo algarvio, as capitais europeias, o norte de África...), Teixeira-Gomes é lembrado em especial pelo romance Maria Adelaide, cuja protagonista, ferida pela neurastenia e por um ciúme doentio, emana uma sensualidade inelutável de que a figura masculina, no seu ímpeto lúbrico, não se liberta.

As inúmeras mulheres que pululam no universo que nos oferece são heroínas lânguidas, belas e extremamente sensuais, mas não expressam qualquer gesto de verdadeira emancipação nem mesmo uma marca de rebeldia convicta, à exceção de Maria Adelaide. Presas por convencionalismos sociais e pelas rígidas convenções familiares, as jovens que protagonizam as Novelas eróticas (1935) não conseguem levar por diante as suas paixões ou sucumbem a elas. A volúpia, a consumação do amor carnal e a livre expressão do gozo físico são assumidas por um narrador homodiegético sempre galanteador, disponível para amar e que cita com pertinência Bossuet: “Dans le transport de l’amour humain, qui ne sait qu’on se mange, qu’on se devore, qu’on voudrait s’incorporer em toutes manières...” (Teixeira-Gomes, 2012: 48). Narrador que se confunde com o autor, “essa perfeita efetivação da individualidade torna-o, como artista, irremediavelmente autoafirmativo. Só sabe contar no «eu», só sabe pensar por si” (Rodrigues, 1950: 9). Nesse confessionalismo antinaturalista, em páginas sem tabus nem qualquer retórica sentimental oca, repousa uma das qualidades singulares do seu estilo.

Manuel Teixeira-Gomes é ainda autor de Cartas a Columbano (1932), Regressos (1935), Miscelânea (1937) e Carnaval literário (1939). Em 2016, Paulo Filipe Monteiro produziu o filme Zeus, baseado em alguns dados biográficos de Manuel Teixeira-Gomes – os últimos meses na presidência, o clima de instabilidade social vivida no dealbar do fascismo e a partida solitária para Bougie, na Argélia.

 

Referências

QUARESMA, J. Alberto (2016). Manuel Teixeira Gomes — Biografia. Lisboa: IN-CM / Museu da Presidência da República.

RODRIGUES, Urbano Tavares (1950). Manuel Teixeira Gomes. Introdução ao Estudo da sua obra. Lisboa: Portugália Editora.

TEIXEIRA-GOMES, M. ([1935]2012). Novelas Eróticas. Lisboa: Relógio d’Água.

 

Personagem no dicionário:

Maria Adelaide (Maria Adelaide)